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O IMPOSSÍVEL/Crítica – o inferno no paraíso

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Ao custo de 30 milhões de euros, o espanhol Juan Antonio Bayona recria o tsunami que devastou 13 países da costa da Ásia em 2004, embarca a plateia para dentro da tragédia e faz de O Impossível um dos grandes filmes da presente década

A chegada do inesperado tsunami em O IMPOSSÍVEL (2012), de Juan Antronio Bayona

Após a auspiciosa estreia em O Orfanato (2007, ganhador de 33 prêmios), um vigoroso thriller que conciliou o drama e o horror, o espanhol Juan Antonio Bayona confirma o seu talento em outro filme com as mesmas conotações em O Impossível, no qual ele substitui um casarão transformado em orfanato ocupado por espíritos de crianças por um paraíso invadido por um tsunami com ondas de 10 metros de altura que tira a vida de milhares de pessoas. No entanto, seria injustiça creditar exclusivamente ao diretor a qualidade dos dois filmes, quando em ambos ressalta-se o trabalho de Sergio G. Sanchez na elaboração dos roteiros. Minuciosos, detalhistas e insinuantes.

Tucidides

Desde que Tucidides (460–400 a.C) observou um tsunami e concluiu que são crias de explosões submarinas, essas ondas gigantescas vêm chamando a atenção do homem por seu poder devastador. Países como Portugal (Sismo de Lisboa, 1755), Java e Sumatra (1883, cuja origem se deu com a explosão vulcânica da Ilha Krakatoa, na Indonésia), Indonésia (Ilha das Flores, 1992), Japão (ilha de Okushiri, 1993), Nova Guiné (1998), Peru (2001) e novamente no Japão, em 2011, sentiram esse poder.No entanto, nenhum deles foi tão letal quanto ao tsunami que se abateu em 26 de dezembro de 2004 sobre 13 países banhadas pelo oceano Índico tirando a vida de 240 mil pessoas. Dez ondas de 10 metros aos intervalos de dez minutos mataram 5.395 mil pessoas, deixaram 2.800 desaparecidos e 1.480 crianças órfãs, apenas na Tailândia.

Na tragédia daquele país o tsunami deixou vivas, também, as histórias de anônimos que se tornaram verdadeiros heróis no atendimento às vítimas – como nativos e médicos –, de sobrevivência – aqueles que suportaram a dor por horas a fio em situações críticas até a chegada das equipes de socorro – e de famílias marcadas pela superação.

O tsunami assume a metáfora de um inferno em O IMPOSSÍVEL

Priorizando essas três vertentes da tragédia, Sérgio G. Sanchez estabelece o inesperado e a fatalidade como inerentes ao ser humano, expondo-os como a expressão da efemeridade da vida e o mundo com um lugar de expiação – único sentido para se entender como um ser humano pode morrer de um momento para outro sob as mais diversas circunstâncias. O inesperado na existência humana.

Saiba mais sobre o tsunami de 2004, clicando > aqui

Sanchez e Bayona expõem essa condição humana, mas a desdobram sob outra vertente: a da capacidade de sobrevivência. Sobreviver a uma dessas tragédias é um desses inesperados que costumeiramente o dito popular costuma chamar de milagre. E, entre milhares de mortos, uma família de cinco pessoas, incluindo um adolescente e duas crianças pequenas sobreviver ao ser arrastada em dezenas de quilômetros por toneladas de águas em meio ao que elas levam de roldão pode ser visto mesmo como um verdadeiro milagre.

Tom Holland e Naomi Watts em O IMPOSSÍVEL

É o caso da família de Enrique Alvarez e Maria Belón e seus filhos Lucas, Thomas e Simão. Bayona e Sanchez se debruçam sobre a história desse “milagre” para colocar na tela, com todo o seu inesperado e violência, a tragédia que se abateu sobre parte do território asiático na manhã de 26 de dezembro de 2004, deixando o mundo perplexo com as imagens assustadoras da invasão das águas ao continente, levando tudo em seu caminho.

Ao centralizar a história da tragédia em uma família sobrevivente, O Impossível deriva a história para o humanismo, centrando-o na fragilidade humana perante a morte inesperada, a força avassaladora da natureza e o surgimento da solidariedade como instrumento de agregação e espiritualidade. Desta forma, a tragédia, que não deixa de ser exposta em uma expressão realista, ganha a dimensão de superação e de amor no empenho de um pai e busca da mulher e deus filhos, além, é óbvio, da dor dos ficaram sem seus entes queridos. E após o tsunami deixar o seu estrago território a dentro, adquire expressão de realidade ao expor a integração de homens, mulheres e crianças em aliviar as dores da tragédia – e isto está explicito na cena na qual um homem que perdeu a mulher e a filha oferece o seu celular para o personagem vivido por Ewan McGregor.

Samuel Joslin, Ewan McGregor e Oaklee Pendergast: um olhar sobre a tragédia

Há quem critique Bayona por ter carregado na dramaticidade, principalmente na cena de encontro do pai com os filhos e posteriormente com a mulher no hospital improvisado, a fim de mexer com a sensibilidade e as lágrimas do espectador. Mas isso me parece genuíno e não falso, uma forma de obter a reflexão do espectador sobre um diferente momento de felicidade. A superação de uma jornada inesperada. E do que vale um filme sem a emoção?

O realismo da tragédia provocada por um tsunami expressado em O Impossível e o talento para colocar a plateia dentro de seus acontecimentos confirmam Juan Antonio Bayona e Sergio Sanchez como os mais notórios nomes do cinema espanhol na atualidade. O resultado é uma obra reflexiva sobre o inesperado de cada dia na existência humana. Imperdível.

Mais informações

O IMPOSSÌVEL (Lo Impossible/The Impossible, Espanha, 2012), de Juan Antonio Bayona, com Ewan McGregor, Naomi Watts, Tom Holland, Samuel Joslin e Oaklee Pendergast. Parisfilmes. 107 minutos. 12 anos.

Confira o trailer.

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

 

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